sábado, 7 de novembro de 2009











Ternura







Eu te peço perdão por te amar de repente


Embora o meu amor


seja uma velha canção nos teus ouvidos


Das horas que passei à sombra dos teus gestos


Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos


Das noites que vivi acalentando


Pela graça indizível


dos teus passos eternamente fugindo


Trago a doçura


dos que aceitam melancolicamente.


E posso te dizer


que o grande afeto que te deixo


Não traz o exaspero das lágrimas


nem a fascinação das promessas


Nem as misteriosas palavras


dos véus da alma...


É um sossego, uma unção,


um transbordamento de carícias


E só te pede que te repouses quieta,


muito quieta


E deixes que as mãos cálidas da noite


encontrem sem fatalidade


o olhar estático da aurora.






Vinícius de Moraes

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